Goma, Congo (AP) – Os rebeldes M23 apoiados pelo Ruanda alegaram ter começado a retirar-se da cidade de Uvira, no leste do Congo, na quarta-feira, de acordo com líderes de grupos rebeldes e autoridades locais.
O líder do M23, Bertrand Bisimwa, falou à Associated Press por telefone e disse que a retirada estaria concluída na manhã de quinta-feira.
“Dissemos que íamos retirar-nos. A nossa declaração é clara. E é isso que estamos a fazer”, disse Bisimwa.
O M23 assumiu o controle da cidade na semana passada, após lançar um ataque rápido no início do mês. Mais de 400 pessoas foram mortas e quase 200 mil deslocadas, dizem autoridades regionais.
A mais recente ofensiva dos rebeldes ocorre apesar de um acordo de paz mediado pelos EUA e assinado pelos presidentes congolês e ruandês em Washington no início deste mês.
Os residentes compartilharam relatórios conflitantes sobre a situação do recall.
Kelvin Bija, coordenador da sociedade civil congolesa em Uvira, disse que os soldados do M23 se dirigiam para norte, em direcção à cidade de Kamaniola.
Bwija também afirmou que milícias pró-governo começaram a aproximar-se da cidade conhecida como Wazelendo, mas a AP não conseguiu confirmar isso.
Questionado sobre quem assumiria o controlo da cidade após a retirada das suas forças, Bisimwa disse que a responsabilidade recai sobre os mediadores e que o M23 “solicitou uma força neutra, e acreditamos que aqueles que nos pediram a retirada serão capazes de os mobilizar muito rapidamente”.
Um porta-voz do governador de Kivu do Sul disse que não poderia confirmar a retirada na noite de quarta-feira.
Os Estados Unidos acusaram na semana passada o Ruanda de violar o acordo ao apoiar novos avanços rebeldes no leste do Congo, rico em minerais, e alertaram que a administração Trump iria reprimir os “spoilers” do acordo.
O acordo não incluiu grupos rebeldes, que estão a negociar separadamente com o Congo e concordaram com um cessar-fogo no início deste ano, que ambos os lados acusam o outro de violar. No entanto, o acordo obriga o Ruanda a deixar de apoiar grupos armados como o M23 e a agir para pôr fim às hostilidades.
A pressão rebelde em Uvira levou o conflito às portas do vizinho Burundi, que há anos mantém tropas no leste do Congo, aumentando o receio de uma repercussão regional mais ampla.
Cerca de 64 mil refugiados do Congo chegaram ao Burundi desde o início do mês, segundo a agência da ONU para os refugiados. Também foram relatados bombardeios na cidade de Rugombo, no lado da fronteira com o Burundi.
Especialistas do Congo, dos Estados Unidos e das Nações Unidas acusaram o Ruanda de apoiar o M23, que passou de centenas de membros para cerca de 6.500 combatentes em 2021, segundo as Nações Unidas.
Mais de 100 grupos armados disputam uma posição no leste do Congo, rico em minerais, perto da fronteira com o Ruanda, principalmente no M23. Segundo a agência das Nações Unidas para os refugiados, o conflito criou uma das crises humanitárias mais significativas do mundo, com mais de 7 milhões de pessoas deslocadas.



