A polícia de Bangladesh começou a exumar uma vala comum que supostamente escondeu cerca de 114 vítimas não identificadas dos grandes tumultos do ano passado que depuseram a ex-primeira-ministra Sheikh Hasina. A iniciativa é apoiada pelas Nações Unidas e assistida pelo antropólogo forense argentino Luis Fontebrider, que traz décadas de experiência em missões de recuperação e identificação em valas comuns em todo o mundo.
Anjuman Mufidul Islam, uma organização voluntária, cremou o corpo no crematório Rayerbazar em Dhaka. O grupo relatou ter enterrado 80 corpos não reclamados em julho e mais 34 em agosto de 2024, todos considerados mortos durante semanas de protestos violentos contra o governo de Hasina. As Nações Unidas estimam que cerca de 1.400 pessoas podem ter perdido a vida nesta violenta repressão, que levou à recente condenação de Hasina por crimes contra a humanidade.
O chefe do Departamento de Investigação Criminal (CID), Md Sibgat Ullah, disse que os investigadores suspeitavam que havia cerca de 114 corpos na vala comum, embora o número exato só fosse confirmado quando o processo de exumação fosse concluído. “Só poderemos confirmar depois de cavar as sepulturas e exumar os corpos”, disse Ullah aos jornalistas.
Mohammad Nabeel, que procura o seu irmão Sohail Rana, 28 anos, desaparecido em julho de 2024, expressou a sua angústia, afirmando: “Procurámo-lo por todo o lado”. As preocupações da família de Rana aumentaram quando viram um vídeo no Facebook insinuando a sua morte iminente, culminando num momento comovente quando reconheceram as suas roupas numa fotografia tirada por voluntários do crematório.
Os restos mortais exumados serão submetidos a exames post-mortem e testes de DNA, um processo que deverá levar semanas. O policial sênior Abu Taleb destacou os desafios da extração de DNA, dizendo: “Já se passou mais de um ano, então não é possível extrair DNA de tecidos moles. Trabalhar com ossos leva mais tempo.”
A equipa de exumação inclui peritos forenses de quatro faculdades de medicina de Dhaka, juntamente com Fondebrider, que foram trazidos ao abrigo de um acordo com o Gabinete dos Direitos Humanos das Nações Unidas (ACNUDH) para garantir o cumprimento das normas internacionais. “O processo é complexo e único”, explicou Fondebrider aos repórteres, enfatizando o compromisso com padrões elevados em todo o esforço investigativo.
Uma vez identificados os corpos, as autoridades planeiam repatriá-los de acordo com os ritos religiosos e os desejos dos seus familiares. Depois de ser condenada e sentenciada à morte à revelia, Sheikh Hasina está agora em exílio auto-imposto na Índia.





