19 Abril 2025

Filme de “Minecraft” mistura dois universos cinematográficos, mas perde a essência de Jared Hess

Nunca joguei Minecraft, assim como também não sigo a fé cristã. Ainda assim, sempre admirei o universo cinematográfico peculiar de Jared Hess, diretor de “A Minecraft Movie”. Conhecido por obras como Napoleon Dynamite (2004), que retrata um ambiente espiritual sem referências explícitas à cultura pop ou ao comportamento típico da adolescência, Hess construiu uma carreira com narrativas marcadas por humor excêntrico e sátiras com toques religiosos. Seus filmes seguintes, como Nacho Libre, com Jack Black no papel de um frade lutador, e Gentlemen Broncos, uma comédia ácida sobre fé e juventude, consolidaram esse estilo. Em Don Verdean (2015), ele mergulha no tráfico de relíquias religiosas, e em Masterminds (2016), aposta em um roubo recheado de graça e inocência.

Com A Minecraft Movie, havia grande expectativa sobre como Hess lidaria com um universo de fantasia tão expansivo quanto o de Gentlemen Broncos. No entanto, a resposta é ambígua: o projeto parece exagerado e, ao mesmo tempo, limitado. A propriedade intelectual do jogo dita as regras, os personagens parecem reféns da marca, e Hess, mesmo com sua criatividade habitual, se vê preso a um roteiro que não é seu e à complexidade dos efeitos visuais em CGI.

O filme alterna entre cenários realistas e os mundos pixelados do jogo, mas sem alcançar a ousadia criativa ou o toque pessoal que marcam os trabalhos anteriores do diretor. A produção está longe de ser um fenômeno como Barbie e, com cenas claramente promocionais e uma narrativa genérica, mostra-se convencional. Apesar disso, ainda conserva traços suficientes do estilo de Hess para nos deixar curiosos sobre como seria se ele tivesse mais liberdade.

Para quem não conhece o jogo, Minecraft permite aos jogadores minerar recursos naturais e usá-los no Overworld — um mundo aberto repleto de possibilidades — para construir o que quiserem. No entanto, esse universo enfrenta ameaças constantes, como os Piglins, criaturas do submundo. Os jogadores, portanto, precisam defender suas criações. Visualmente, o jogo remete à era dos gráficos retrô, com formas pixeladas e blocos, inclusive o misterioso objeto chamado Orbe, que, ironicamente, tem formato cúbico.

Na versão cinematográfica, Jack Black interpreta Steve, um vendedor de maçanetas entediado — baseado no avatar padrão do jogo. Cansado da rotina, Steve abandona o emprego para perseguir um sonho antigo: explorar uma mina local. Lá, encontra dois artefatos místicos — o Orbe da Dominância e o Cristal da Terra — e, ao manipulá-los, acaba transportado para o Overworld. Sua criatividade, porém, é ameaçada por Malgosha, líder dos Piglins (dublada por Rachel House), que deseja os objetos para dominar aquele mundo. Para proteger tudo, Steve entrega o Orbe e o Cristal ao lobo Dennis, seu fiel companheiro, pedindo que os esconda.

Anos depois, Garrett Garrison (Jason Momoa), conhecido como “o Homem do Lixo”, compra os pertences de Steve em um leilão esperando encontrar um Atari antigo, mas acaba com o Orbe e o Cristal. Garrett é o excêntrico dono de uma loja de videogames em Chuglass, uma pequena cidade de Idaho.

Ao mesmo tempo, os irmãos Natalie (Emma Myers) e Henry (Sebastian Hansen) chegam a Chuglass para realizar o último desejo da mãe. Henry, um prodígio da ciência, tenta se enturmar no novo colégio criando um jetpack, mas o experimento sai do controle e causa um acidente. Ao fugir, ele se esconde na loja de Garrett e, acidentalmente, ativa os artefatos, transportando-se com Garrett para o Overworld.

Em busca de Henry, Natalie se une à corretora de imóveis Dawn (Danielle Brooks), e ambas acabam indo parar no mundo virtual. Lá, os quatro se juntam a Steve em uma jornada previsível para enfrentar monstros, recuperar outro cristal, salvar Dennis, proteger o Overworld e voltar para casa.

Apesar de seus momentos divertidos e algumas pitadas da visão criativa de Hess, o filme se rende aos limites da franquia e não alcança o potencial de seu diretor. É uma aventura visualmente chamativa, mas que carece de alma — exatamente aquilo que sempre destacou o trabalho de Jared Hess.