‘Invocação do Mal: Últimos Ritos’: A História Real por Trás do Fim da Saga e o Legado dos Warren

Após 12 anos de sucesso que redefiniram o terror sobrenatural nos cinemas, a saga principal de “Invocação do Mal” chega ao seu capítulo final. O diretor James Wan, criador do universo, entregou aos fãs não apenas um filme, mas um evento que promete encerrar com chave de ouro a jornada cinematográfica de Ed e Lorraine Warren, os mais famosos investigadores paranormais do mundo. Interpretados de forma brilhante por Patrick Wilson e Vera Farmiga, o casal se tornou uma referência para os amantes do gênero, e sua despedida, em “Invocação do Mal: Últimos Ritos”, mergulha em um dos casos mais sombrios e documentados de sua carreira.
A Inspiração Real: O Caso da Família Smurl
Para o filme de despedida, James Wan decidiu revisitar uma história que o marcou ainda na infância. Antes de se tornar um mestre do terror, Wan, crescendo na Austrália, assistiu a um filme para TV chamado “A Casa das Almas Perdidas” (The Haunted), que narrava os eventos aterrorizantes vividos pela família Smurl na Pensilvânia. Foi através dessa produção que ele descobriu o trabalho de Ed e Lorraine Warren, uma fascinação que o levou a pesquisar a fundo seus casos e, anos depois, a criar um dos universos cinematográficos de terror mais bem-sucedidos da história.
“Parecia o certo a se fazer”, comentou Wan, que atua como corroteirista e produtor do novo filme. “O caso que me apresentou aos Warren é o mesmo com o qual estamos nos despedindo deles”.
Em “Últimos Ritos”, a família Smurl vê sua vida se transformar em um pesadelo quando a filha adolescente, Heather (interpretada por Kila Lord Cassidy), ganha de presente de seus avós um espelho de madeira antigo. O objeto, que deveria ser uma lembrança afetuosa, acaba se revelando um portal para o inferno, forçando a família a buscar a ajuda de Ed e Lorraine.
Ficção vs. Realidade: As Liberdades Criativas do Filme
O caso Smurl foi um dos mais notórios da carreira dos Warren, ganhando ampla cobertura da mídia nos anos 80, incluindo uma famosa aparição no programa de Larry King, que é referenciada no longa. O diretor Michael Chaves se preocupou em incluir eventos específicos relatados pela família, como um membro sendo empurrado escada abaixo e o cachorro da família sendo arremessado contra a parede. Um dos eventos mais perturbadores, a alegação de Jack Smurl de que foi sexualmente agredido por uma entidade — que Lorraine Warren identificou como um súcubo —, é retratado no filme através de uma cena de levitação que, segundo Chaves, se torna “o ponto de ruptura para a família”.
Para garantir a maior fidelidade possível, a produção consultou as quatro irmãs Smurl, que sentiam que o filme de TV dos anos 90 não fez justiça à sua história. Mesmo assim, algumas liberdades criativas foram tomadas. O espelho demoníaco, por exemplo, não fez parte do caso real; na verdade, os Warren afirmaram que a casa era assombrada por quatro espíritos distintos, enquanto o filme concentra a trama em três entidades com um passado trágico. Além disso, a assombração da família Smurl durou muito mais tempo do que o retratado. Chaves revela que as irmãs “acreditam que essa entidade as seguiu para suas vidas e famílias separadas”.
Outro ponto adaptado foi a cena em que a irmã mais velha, Dawn, vomita cacos de vidro. Este momento chocante é uma versão intensificada de um relato real das irmãs, que contaram que uma delas tinha crises de vômito “sempre que os Warren chegavam”. O uso do vidro, segundo o diretor, foi “uma oportunidade de tornar a cena maior e mais impactante”.
O Legado da Franquia: Lições de Sobrevivência no Universo Warren
Ao longo de quatro filmes principais e diversos derivados como “Annabelle” e “A Freira”, o universo de “Invocação do Mal” não apenas contou histórias baseadas em fatos, mas também reforçou um conjunto de “regras” clássicas do terror, deixando um legado duradouro para os fãs.
A primeira lição é clara: mudanças para casas novas são um convite para o paranormal. A franquia solidificou a ideia de que um passado sombrio sempre se esconde nas paredes de um novo lar. Da mesma forma, porões e sótãos são consistentemente apresentados como portais para o mal, espaços escuros e úmidos onde entidades demoníacas se sentem à vontade.
Objetos antigos também são um perigo constante. Um móvel de brechó ou uma peça de antiquário pode carregar espíritos e demônios. A recomendação implícita nos filmes é clara: para garantir uma casa livre de possessões, talvez seja mais seguro optar por móveis novos e sem história — afinal, nunca se ouviu falar de uma estante Billy da Ikea assombrada.
Nesse universo, a intuição e a sensibilidade de certos indivíduos são cruciais. Os animais de estimação, principalmente os cães, são sempre os primeiros a detectar o perigo, com seus rosnados para o vazio. As crianças, com sua mente ainda livre de preconceitos, também são mais receptivas ao sobrenatural, e seus “amigos imaginários” devem ser levados a sério. E, por fim, a saga sempre destacou a força da fé e da família. O crucifixo é uma arma poderosa, mas é a união e o amor, como o que unia Ed e Lorraine Warren, que se provam a defesa definitiva contra as forças das trevas.